27 dez Dificuldades não se medem
“(…) Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? Que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo”.
Clarice Lispector (Conto: É pra lá que eu vou. Livro: Onde estivestes de noite).
Às vezes a vida, simplesmente, parece não caber dentro da própria vida, às vezes as atividades mais comuns ganham peso e começam a ficar difíceis demais de resolver. É como se, vez por outra, a vida nos confrontasse com alguns impossíveis. E um impossível, às vezes, pode vir disfarçado de uma situação corriqueira, pequena, de algo a que ninguém dá ouvidos, entende, ou leva a sério.
Um impossível desses pode ser tão doloroso de se viver quanto os grandes impossíveis que fazem olhos se arregalarem e bocas se abrirem. Pois os impossíveis disfarçados do dia-a-dia empurram ao silêncio, ao ensimesmar, ao olhar preocupado, à dor na boca do estômago, ao andar em círculos sem ver saída…
Não dá pra medir tamanho de impossível, nem profundidade de dor. Não dá nem pra esperar que impossíveis deixem de ser impossíveis…
Mas na tentativa de colocar o sofrimento em palavras, na intenção de transmitir a alguém cuja escuta é o instrumento de trabalho algo desse mal-estar, quem sabe não se pode mexer em uma parte disso que não cabe na vida?
Quando se está diante de um analista, há um efeito de retorno sobre o que se diz, esse efeito, que é pra cada um singular, pode promover resultados imprevistos. E isso, ajuda.
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