Conceitos

[vc_row row_type="row" use_row_as_full_screen_section="no" type="full_width" angled_section="no" text_align="left" background_image_as_pattern="without_pattern" padding_top="30" css_animation=""][vc_column][vc_column_text][dropcaps type='normal' font_size='32' color='#303030' background_color='' border_color='']O[/dropcaps] campo da clinica psicanalista é, invariavelmente, atravessado pela questão da responsabilidade, ou seja, da ética, do momento em que a experiência do psicanalista tem como condição o seu direcionamento a um sujeito de direito,1 um sujeito ético, que responde por seus atos e pelas consequências dos mesmos.

São muitas as responsabilidades em jogo na clínica, a começar pela parte do analista, que, como afirma Lacan em seu texto A direção do tratamento ,“paga”, ou seja, se responsabiliza, “com as palavras” na interpretação, “com sua pessoa” no suporte à transferência,2 “com seu juízo mais íntimo” pelo fato de participar de uma ação “que vai ao cerne do ser”,3 dito de outra forma, é uma responsabilidade entrelaçada a cada momento do tratamento.

Essa é uma questão que tempos depois Lacan irá retomar no seminário A ética da psicanálise, quando adverte ao analista sobre a farsa que existe em afiançar ao analisante qualquer possibilidade de que este encontre o seu bem no tratamento. Ao contrário, ele marca que ao psicanalista é exigido um pouco mais de rigor e firmeza em “nossa confrontação com a condição humana”,4 pois, o término de uma análise comporta para o sujeito “atingir e conhecer o campo do desarvoramento absoluto, no nível do qual a angústia é já uma proteção”.5 O fim do tratamento não dissolve o imperativo ético que circunda a responsabilidade sobre as nossas ações, que é, de certo modo, a razão do relacionamento da “ação com o desejo que a habita”,6 mas, de maneira oposta, exige do sujeito que desloque para o infinito, para um horizonte de juízo último, o ponto sobre o qual suas ações serão julgadas.

Entretanto, o analista, a partir do convite que Lacan faz em 1953: “Que ele conheça bem a espiral a que o arrasta sua época na obra contínua de Babel, e que conheça sua função de intérprete na discórdia das línguas”,7 é também responsável pelo dever de se orientar sobre aquilo que ocorre na sociedade na qual vive e de estar advertido sobre como a psicanálise e a sociedade representam discursos que incidem um sobre o outro e operam em uma tensão reciproca.

Porém, naturalmente, está em jogo conjuntamente, a responsabilidade do analisante, responsabilidade enorme, já que para a psicanálise se é responsável, até, pelo próprio inconscienteque emerge, na experiência analítica, pela autorização dada, no inicio do tratamento, de dizer qualquer coisa que lhe venha à mente. Ato analítico fundado por Freud que simula autorizar uma certa irresponsabilidade, mas que, entretanto, exige do agente da fala, justamente, o oposto. Se pode dizer, como consequência, que as entrevistas preliminares colocam o sujeito de imediato em contato com a questão da responsabilidade.

Aquilo que se desvela para o sujeito, a partir do que este se permite dizer com relação às causas do seu sofrimento e de sua posição diante da queixa que apresenta, é, consequentemente, o fato de se ser sempre responsável pelo sofrimento do qual se dói. A questão da qual um sujeito se lamenta se transforma, em algum momento, no problema que o sujeito é para si mesmo e em que medida isso lhe concerne, ainda que ele ignore completamente essa relação inconsciente. A responsabilidade que emerge do ato da fala direcionada a um analista se projeta na responsabilidade sobre a resposta. Esta diz respeito ao enigma contido na questão original que cada um porta que, em algum ponto, retornará vazia, intransitiva, portadora de uma potência purificada e que irá respaldar e transformar a demanda terapêutica inicial em algo da ordem de uma reabsorção do sintoma que se apresenta com o sujeito.

A experiência analítica pode até começar como uma demanda de tratamento no horizonte, entretando, a partir daí, pode facultar ao sujeito "renascer para saber se quer aquilo que deseja”,9 se está pronto a aceitar transformar sua relação com a posição que ocupa diante do desejo do Outro do laço social, pagando assim, também, com a sua pessoa "pelo resgate de seu desejo”.10

    Para Freud, as manifestações do inconsciente estão presentes nos sonhos, lapsos, atos falhos e no chiste. Ao meu ver, essa animação de 2007 de Juan Zaramella brinca com isso. Lapsus - o nome já nos provoca -  pode ser interpretada à luz do que entendemos como...