23 maio Descoberta e invenção
Há uma experiencia muito sutil que é a de nos encontrarmos com algo que produzimos e que, de alguma forma, surge como um novo velho (des)conhecido…
É o que se chama de saber não sabido, ou, em termos freudianos, de inconsciente. Num certo sentido o trabalho de uma analise é promover esse encontro entre nós e o saber não sabido que podemos produzir sobre nós.
É contraditório e, ao mesmo tempo, muito real, a percepção que se tem, no processo analítico, de que essa verdade que descobrimos sobre nós mesmo foi simultaneamente descoberta e construída, alí, a partir daquele encontro e dentro daquele processo. Essa é à operação matemática da análise ela vai da decifração de si à invenção de si, num mesmo processo, no movimento que a lalação analítica produz em nosso ser.
Pode parecer depreciativo falar em lalação, mas há um encontro com a linguagem dentro da análise que é árido como o aprender a falar. Quando começamos a nos dizer para um analista, as palavras faltam, somem… Essa fala de si por si precisa ser construída.
Tantas vezes sai-se com uma sensação de vazio após tantas palavras, por parecer que não foi dito o que se pretendia dizer. E, então, o que é que aconteceu? Como é que se disse o que não queria se dizer e não se disse o se queria dizer?
É assim mesmo. É esse o movimento que inventa a verdade que se está prestes a descobrir sobre si. E é a partir desse encontro de si com o que se produz de verdade sobre si que as coisas começam a encontrar novos lugares na vida. E aquilo que estava nos atazanando a existência vai sendo elaborado, reconfigurado, desdito e redito até que, de repente, estamos de um jeito que é, ao mesmo tempo, novo e idêntico ao que éramos antes…
E percebemos que isso é bom.
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